Para comemorar o 25 de abril trabalhámos esta história da Luísa Ducla Soares. Todos adorámos ouvir esta história (1ºciclo).
Não havia escola. A Sofia levantou-se mais tarde e estava, ainda de pijama, a ver desenhos animados no sofá.
— Ainda bem que inventaram este feriado — disse. — Hoje é o dia da preguiça.
— Não — respondeu a mãe. — Hoje é o 25 de Abril. Sabes o que aconteceu neste dia em 1974?
Mas ela não sabia. Então a mãe sentou-se a seu lado no sofá e contou:
— No dia 25 de Abril de 1974, eu tinha a tua idade. Levantei-me cedo para ir para a escola mas a rádio avisou que havia uma Revolução. Pensei logo que iam estourar tiros e bombas. Podíamos até morrer! Fiquei cheia de medo. Deixámo-nos estar todos em casa a ouvir as notícias e as canções que transmitiam. A certa altura o teu avô José exclamou:
— Não fico nem mais um minuto aqui dentro. Vou juntar-me a eles!
E saiu, acompanhado do tio Manuel, que tinha mais cinco anos que eu. Então espreitei à janela e vi tanques de guerra que se aproximavam, soldados com capacetes, armados.
De toda a parte surgia gente nova, velha, todos falavam, muitos abraçavam-se. Os rapazes trepavam às árvores do Largo do Carmo, onde vivíamos, e davam vivas à Revolução. Parecia uma festa.
Então pedi à minha mãe que nos juntássemos àquela multidão.
De repente, apareceu uma rapariga com um cesto de cravos vermelhos. Também ela sorria, feliz. Pegou numa flor e, num gesto lindo, meteu-a no cano de uma espingarda. Depois olhou para mim e disse:
— Queres ajudar-me?
Fiquei radiante por estar a pôr cravos nas espingardas.
Havia pessoas a rir. Um homem de cabelos brancos chorava de emoção:
— Esperei mais de quarenta anos por isto… Estive preso e fui torturado por dizer o que pensava.
O meu pai pôs-me às cavalitas para ver o capitão que falava num altifalante, pedindo aos governantes que se rendessem. Era muito jovem e chamava-se Salgueiro Maia. Foi ele o grande herói daquele dia. Escusado será dizer-te que a Revolução venceu. Sem lutas. Sem verter uma gota de sangue.
À noite, antes de me deitar, o meu pai abraçou-me e disse-me:
— Nunca te esqueças deste dia. Recorda-o mais tarde aos teus filhos. Hoje é o Dia da Liberdade!
A Sofia ficou séria. Depois levantou-se para regar o craveiro que floria na varanda.
SOARES, Luísa Ducla – O livro das datas. Civilização Editora, 2010.
Também estivemos a explorar uma ficha com o antes e o depois da Revolução. Foram muitos os comentários aquando da leitura desta ficha:
"Ah! Era mesmo assim?"
"Isso aconteceu mesmo?"
"A minha mãe já me tinha contado algumas coisas dessas!"
"Não consigo imaginar como era a vida das pessoas antes do 25 de abril!"
Aqui vai a ficha:
ANTES | DEPOIS |
Só havia um partido político, a Acção nacional Popular, que apoiava o governo. | Passou a haver partidos políticos. |
Não havia eleições livres. Só se podia votar no partido do governo. | As eleições passaram a ser completamente livres. |
As mulheres só podiam votar se tivessem concluído o curso secundário. | Toda a gente pode votar. As mulheres votaram pela primeira vez nas eleições de 15 de Abril 1975, as primeiras disputadas em liberdade. |
As mulheres não podiam viajar sozinhas para fora do país sem autorização escrita do marido. | Mulheres e homens têm os mesmos direitos. |
Não se podia dizer mal do governo e quem o fizesse era preso. | Passou a haver liberdade de opinião. |
Havia uma polícia política, com milhares de informadores em toda a parte, que escutava praticamente todas as conversas. | Não existe polícia política. |
As pessoas casadas pela Igreja não se podiam divorciar. | O divórcio estendeu-se a toda a população. |
Cada patrão pagava o que queria aos seus trabalhadores. | Passou a haver um salário mínimo nacional. |
As notícias só podiam sair nos jornais depois de terem sido lidas e autorizadas pelos Serviços de Censura. | A Imprensa é livre. |
Os jovens passavam quatro anos da tropa, dois dos quais na guerra. | Acabou a Guerra Colonial. Uns anos mais tarde, o serviço militar deixou mesmo de ser obrigatório. |
Ainda pintámos a bandeira do nosso país e um cravo.
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